Observando
as redes sociais, ou em conversa com conhecidos e amigos, podemos notar o
descontentamento secular que ronda a classe trabalhadora, em especial a classe
média. Aquela mesma turma que reclama do governo, da política, da inflação, da
falta de médicos, da corrupção. Mas o que me admira é o quanto eles não se
sentem responsáveis por tudo isso e não fazem nada para mudar.
Fica fácil
eu vir aqui e escrever de modo genérico, é quase uma leviandade. No entanto, é
exatamente esse ponto que deve ser destacado. Temos (todos nós), amigos,
conhecidos ou parentes que exemplificam essa situação cotidiana, comum. Mesmo
cada um de nós pode ser assim, ou agir dessa forma com relação a alguns
assuntos. O que precisamos entender é que essa caricatura de nossa sociedade,
não é tão caricata assim.
Acompanhando
notícias de qualquer jornal comum podemos separar dezenas de informações que
podem gerar debates intermináveis e infrutíferos. Não porque sejam
desinteressantes ou complexos, mas por uma profunda falta de conhecimento das
partes envolvidas. Temos uma discussão, não um debate.
E o
problema é justamente o desinteresse por coisas que nos afetam diariamente,
como a política, segurança pública, direitos e deveres de cidadão. Poucos sabem
de fato o que podem exigir dos órgãos públicos, governantes e servidores
(municipais, estaduais ou federais); muitos mais, nem sabem que tem deveres
associados a esses direitos. E quase ninguém cobra efetivamente dos
responsáveis. Isso gera uma desinformação tremenda, uma ignorância perigosa e
danosa, que é usada por quem tem esse conhecimento, para agir em causa própria.
Não por
acaso se acusam os veículos de informação de manipular a opinião pública.
Realmente, muito do material exibido e disponibilizado está ali apenas para
passar um ponto de vista específico, uma ideologia específica. Através dessa
difusão de ideias prontas se criam muitas das alegações de descontentamento
faladas e discutidas aos quatro ventos, criando pouco a pouco as ideias de
senso comum que observamos, ouvimos, perpetuamos e acreditamos.
Sem um
conhecimento e uma cidadania mínimos não podemos esperar mudar essa realidade.
Sem debater seriamente – e isso exclui ideologismos ou partidarismos – não poderemos
alterar a realidade desses “fatos”. A atividade constante em política é o
primeiro passo nessa nova forma de ver o nosso cotidiano. Mas como?
Primeiro,
pela mudança mais complicada de todas: a atitude. Sem mudar a forma de receber
informações, sem refletir sobre elas, sem observar todos os possíveis pontos de
vista antes de emitir opinião, sem entender o que está sendo recebido... Não
podemos ter um conhecimento e passar isso adiante!
Segundo, com
o conhecimento apropriado podemos cobrar de quem tem a responsabilidade e
auxiliar ou parabenizar quem está agindo certo. Temos uma cultura de
conformismo e reclamação que precisa ser mudada. Temos que nos lembrar que
todos somos responsáveis pelo pequeno papel de bala que alguém solta na rua,
pelo sinal vermelho ultrapassado, pelo pequeno “agrado” dado a quem lhe presta
serviço público, pelo dinheiro desviado
e não apurado. E temos que lembrar e louvar as boas iniciativas, dar a
elas destaque em nossas vivências diárias.
Não há como fazer isso
sem ter em mente que todos somos agentes da política, da ética e da convivência
cotidiana. Política se faz em debate; debate se faz com ideias, conceitos
claros e respeito; e ideias se fazem com conhecimento e reflexão – algo que nos
falta como povo, cidadão, pessoa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário