Relações Sociais

O que podemos dizer do entendimento das pessoas acerca da sociedade e das relações interpessoais?

Na gênese de uma boa relação social deve estar o acordo tácito de que os envolvidos falam a verdade, buscam um bem comum ou desejam pelo menos escapar a um estado de guerra ou luta generalizada.

            Ocorre que esse tipo de acordo pode estar galgado em interesses pessoais que agem em desacordo com esse bem comum, gerando relações onde um se beneficia da boa fé de outro.

            No Brasil parece que temos uma terceira situação: onde ambas as partes desejam satisfazer interesses pessoais ignorando a verdade, a ética ou outros expedientes que facilitariam a convivência e contribuiriam para uma sociedade melhor ordenada.

            O que esperar de pessoas que ignoram suas origens políticas e sociais? De pessoas que nem sabem exatamente o que querem como um povo?

            A única coisa que parece unir o povo é a banalização, o escândalo, o escroto, aquilo que choca e permite uma comoção à distância. De perto, todos defendem o que é seu com unhas e dentes, com ganância, com violência. Nas ruas o malandro é idolatrado, o famoso “jeitinho” é encorajado, as crianças são ensinadas a enganar para não ser enganado.

            E como ficam as pessoas que agem por educação, pelo que crêem ser o certo, que ensinam coisas boas, verdadeiras e éticas aos seus filhos?

            Vejo essas pessoas definharem num mar de ignorância e podridão ética que assola as nossas relações sociais. Retiram-se de clubes, escolas, bares, churrasco com amigos e outras situações sociais para não envolverem-se com essa parcela (cada dia maior) de pessoas falsas, enganadoras e manipuladoras.

            O mais incrível é que se uma delas é acusada se enche de razão e argumenta ao seu favor, ou tenta trazer os defeitos do acusador à discussão, desviando-se do problema real, da situação que criou o desconforto.

            Eu tenho me isolado, me relacionado com poucos e bons amigos; conheço muitas pessoas e mantenho o contato com os que valem a pena. De resto, é difícil sequer conversar com pessoas que acham normal sonegar imposto “porque o governo rouba da gente mesmo”, ou que usa de amigos influentes para escapar de alguma lei, ou aqueles que defendem seus filhos porque são seus filhos, mesmo que tenham cometido erros e injustiças (isso não é amor, é cumplicidade), sem realmente se importar com a verdade e mostrar isso a eles.

            Tento manter a civilidade e a compostura diante de certas coisas que percebo, ainda que minha vontade seja a de reparar a injustiça, os preconceitos e as opiniões erradas de grande parte da população. Ainda bem que temos pessoas que se preocupam com outras coisas, que não temos pessoas iguais em tudo. Não é esse o problema. O que me preocupa é o declínio de nossas relações como povo, pessoas e cidadãos. O desfazer de laços que seriam capazes de sanar grandes parcelas de mazelas sociais, problemas comuns à todos nós e ainda assegurar um futuro melhor à todos, ao país.

            Posso estar muito enganado, mas a popularização de qualquer coisa com sendo “parte da cultura do povo brasileiro” é apenas mais uma forma de aprisionar o imaginário comum, o homem comum e sua vida insensata.

            Pão e circo. Desde que o mundo é mundo. E onde iremos parar ao nos relacionarmos de forma tão imatura, enganosa e antiética? Que forma de confiança estamos criando entre pessoas, famílias e Estado ao repassar aos filhos esse conceito, essa valoração inadequada e vazia?

             E antes que eu me esqueça... Bom ano novo a todos!