14 maio, 2011

Ser ou Não-Ser: ao mesmo tempo?

     Segundo o princípio de não-contradição, nada pode ser e não ser ao mesmo tempo sob o mesmo aspecto; No entanto, ao afirmar o que uma coisa é, dizemos também (implicitamente) o que ela não é. O ser e o não-ser são conceitos possíveis de serem alcançados por nossa razão/compreensão ou apenas conseguimos estabelecer entre eles relações, capazes de torná-los inteligíveis?
    
Esse princípio estabelecido na filosofia antiga e até hoje respeitado parece que tem seus dias contados em vista de descobertas da física. Num nível atômico, as partículas quânticas se comportam de maneiras diferentes, mudando de posição, oscilando em frequências de onda, oscilando em lapsos temporais e inclusive chegam a se cruzar num mesmo espaço/tempo.
     Inclusive tem-se a antimatéria (seria um Não-Ser?) como parte componente desses fenômenos quânticos. Ou seja, no núcleo de um atómo, dentro de suas partículas componentes, estão sub-partículas capazes de contradizer toda a física clássica que se aplica ao nosso entendimento humano. Num corpo, num objeto, no ar, na água...em todas as coisas, estão presentes estes elementos: a todo momento estamos mudando a nível quântico, somos apenas manifestações de energia em constante equilíbrio e interação. Por força dessas interações, mantemos certa coerência, leis e ordem em nosso nível de percepção, parecendo que as coisas não mudam, não se mexem.
     Mas poderia-se refutar que isso está além de nossos sentidos, de nossa compreensão e de nosso "aspecto", logo, não poderia ser aplicado para descaracterizar o princípio de não-contradição aristotélico. Se pensarmos que a realidade microscópica é diferente da nossa, de modo que nossas leis físicas não se aplicam à ela, teremos que admitir que existem leis próprias para essa realidade menor. Assim, lá se poderia perverter as leis de Newton, e apenas usando das teorias adequadas se pode estudar seus fenômenos.
     Seguindo essa lógica, temos que admitir também uma maneira perspectiva de adquirir conhecimento sobre o mundo físico, sobre a realidade; teremos leis para a vida e a realidade comum e leis e fenômenos específicos em nível microscópico e quântico. Isso se aplicaria também à Astrofísica e à Astronomia, onde os fenômenos macrocósmicos tem leis específicas.
     Como pensar o Ser e a realidade à luz desse conhecimento, dessa perspectiva científica?
     Se usamos de nossa compreensão atual do princípio de não-contradição há um paradoxo na existência: existimos em nível humano e oscilamos entre existir e não-existir em nível microscópico; admitindo que os aspectos são diferentes e que o princípio permanece válido, cada realidade teria seus fenômenos específicos e sua existência específica, sendo então o Ser uma faceta em cada uma dessas realidades.
     Como conciliar essas facetas? O Ser é único, uma essência indivisível? Se assim é, ele está em qual nível de percepção: quântico, microscópico ou humano?
     Seja como for, temos que pensar o mundo como uma interação de matéria energética, mutável e em constante interação. Precisamos repensar os conceitos metafísicos usando o conhecimento que a ciência nos dá de nossa realidade.  

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