20 abril, 2014

Atividade política


             Observando as redes sociais, ou em conversa com conhecidos e amigos, podemos notar o descontentamento secular que ronda a classe trabalhadora, em especial a classe média. Aquela mesma turma que reclama do governo, da política, da inflação, da falta de médicos, da corrupção. Mas o que me admira é o quanto eles não se sentem responsáveis por tudo isso e não fazem nada para mudar.

            Fica fácil eu vir aqui e escrever de modo genérico, é quase uma leviandade. No entanto, é exatamente esse ponto que deve ser destacado. Temos (todos nós), amigos, conhecidos ou parentes que exemplificam essa situação cotidiana, comum. Mesmo cada um de nós pode ser assim, ou agir dessa forma com relação a alguns assuntos. O que precisamos entender é que essa caricatura de nossa sociedade, não é tão caricata assim.
            Acompanhando notícias de qualquer jornal comum podemos separar dezenas de informações que podem gerar debates intermináveis e infrutíferos. Não porque sejam desinteressantes ou complexos, mas por uma profunda falta de conhecimento das partes envolvidas. Temos uma discussão, não um debate.
            E o problema é justamente o desinteresse por coisas que nos afetam diariamente, como a política, segurança pública, direitos e deveres de cidadão. Poucos sabem de fato o que podem exigir dos órgãos públicos, governantes e servidores (municipais, estaduais ou federais); muitos mais, nem sabem que tem deveres associados a esses direitos. E quase ninguém cobra efetivamente dos responsáveis. Isso gera uma desinformação tremenda, uma ignorância perigosa e danosa, que é usada por quem tem esse conhecimento, para agir em causa própria.
            Não por acaso se acusam os veículos de informação de manipular a opinião pública. Realmente, muito do material exibido e disponibilizado está ali apenas para passar um ponto de vista específico, uma ideologia específica. Através dessa difusão de ideias prontas se criam muitas das alegações de descontentamento faladas e discutidas aos quatro ventos, criando pouco a pouco as ideias de senso comum que observamos, ouvimos, perpetuamos e acreditamos.
            Sem um conhecimento e uma cidadania mínimos não podemos esperar mudar essa realidade. Sem debater seriamente – e isso exclui ideologismos ou partidarismos – não poderemos alterar a realidade desses “fatos”. A atividade constante em política é o primeiro passo nessa nova forma de ver o nosso cotidiano. Mas como?
            Primeiro, pela mudança mais complicada de todas: a atitude. Sem mudar a forma de receber informações, sem refletir sobre elas, sem observar todos os possíveis pontos de vista antes de emitir opinião, sem entender o que está sendo recebido... Não podemos ter um conhecimento e passar isso adiante!
            Segundo, com o conhecimento apropriado podemos cobrar de quem tem a responsabilidade e auxiliar ou parabenizar quem está agindo certo. Temos uma cultura de conformismo e reclamação que precisa ser mudada. Temos que nos lembrar que todos somos responsáveis pelo pequeno papel de bala que alguém solta na rua, pelo sinal vermelho ultrapassado, pelo pequeno “agrado” dado a quem lhe presta serviço público, pelo dinheiro desviado  e não apurado. E temos que lembrar e louvar as boas iniciativas, dar a elas destaque em nossas vivências diárias.
            Não há como fazer isso sem ter em mente que todos somos agentes da política, da ética e da convivência cotidiana. Política se faz em debate; debate se faz com ideias, conceitos claros e respeito; e ideias se fazem com conhecimento e reflexão – algo que nos falta como povo, cidadão, pessoa. 

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