26 maio, 2013

Criação coletiva de um conceito

     A criação coletiva de um conceito ou entendimento vai de encontro à proposta educacional a que nos propomos em sala de aula, na escola pública do RS. Percebo um bom desenvolvimento conceitual por parte dos alunos em aulas de filosofia. Isso me intriga e me faz perguntar: o aluno tem condição de entender qualquer conceito filosófico? É possível construir uma compreensão de conceitos estranhos à realidade dos alunos? É possível expandir a realidade percebida por eles?
     O que percebo, contrário a crença propagada entre alunos e professores, é que os alunos apenas estão apáticos; eles desejam conhecer, aprender e tentar novos desafios. O problema é que a identidade que eles mesmos tomam para si difere muito dessa observação. 
     Um aluno mediano se considera feliz atingindo a média de nota, conseguindo passar. Mas quando os confronto e provoco com uma realidade diferente, onde aprender e construir conhecimento se tornam possíveis, vejo neles um interesse genuíno. Se eles estão efetivamente querendo entender o pensar filosófico ou apenas tentando enganar (a si e ao professor) não consigo determinar ainda; no entanto, a maneira como eles respondem aos estímulos de pensamento abstrato, racional e filosófico me dão certa esperança.
     Construir uma compreensão de conceitos estranhos a realidade dos alunos exige antes demonstrar à eles que é possível fazer isso com conceitos simples que eles julgam já conhecer. Desmistificar, destruir e reconstruir ideias tem sido parte cotidiana das aulas. Parte que eles participam com interesse, e mesmo os que abertamente não gostam da matéria, aprendem que sua antipatia se deve a desconhecimento do que seja filosofar.
     A vivência dos alunos se expande a partir do ponto em que determinamos certos limites, abordamos a visão de mundo que eles tem, buscamos criticar as ideias que eles tem ou abalamos as crenças arraigadas que trazem desde crianças. Essa dialética está se mostrando possível, mesmo num nível de conhecimento e leitura rasos, pífios. O movimentos de filosofar com o que o interlocutor tem como base é meu ponto de partida. A caminhada vai ganhando novos contornos com a construção gradual, a repetição e memorização de poucos conceitos. A ponto de os alunos perceberem a necessidade de se aprofundar e ler, entender e conhecer melhor os filósofos, as correntes e os conceitos-chave da disciplina.
     A criação é um exercício difícil para os que tem mente fechada, acostumados a só receber de fora uma ideia, sem crítica ou compreensão. trabalhamos no sentido de colocá-los em posição de buscar conhecimento de modo a protagonizar suas vidas, efetivamente vivendo suas experiências. O resultado alcançado em um trimestre já se mostra satisfatório. A filosofia já se põe à disposição deles como ferramenta de leitura de seu mundo, de suas escolhas, de suas formas de aprender.
     E o mais importante: muitos alunos já fazem o movimento de ousar perguntar coisas diferentes de seu mundo, ampliando voluntariamente sua perspectiva de aprendizado e conhecimento.

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