05 outubro, 2010

Epicuro - parte I - Vida

Epicuro, nascido em Samos no ano 342/341 a.C. e morto em Atenas no ano 270a.C., foi iniciado nos estudos filosóficos aos treze anos, ainda em sua cidade natal. Estudou com Pânfilo (platônico) ao qual não lhe agradou. Foi enviado pelo pai para estudar em Téos, com Nausífanes, discípulo de Demócrito, adotando sua visão atomista de mundo. Estudou também o ceticismo de Pirro, levando em conta somente seu princípio da ataraxia (imperturbabilidade).


Após cumprir obrigações militares, refugia-se em Colofon por perseguição política a seu pai e outros atenienses. Experimenta a pobreza, a dificuldade e acaba moldando seu próprio caráter e visão de mundo.

Tinha saúde frágil, grande sensibilidade e sofria de vômitos constantes. Moldou assim uma personalidade forte e uma moral austera, sendo por isso admirado. Era bem humorado, atencioso, alegre e não ocultava sua convicção íntima de que tinha uma missão sagrada a cumprir.

Enfrentou diversas dificuldades para tornar conhecidas suas idéias, tendo por exemplo, conseguido permissão de fundar uma escola em Mitilene, permissão logo cassada devido instigação de uma escola rival. Lá conheceu Hermarco – mais tarde seu sucessor.

Em Lâmpsaco, devido ao descrédito dos platônicos, sua escola floresceu e ele pôde se dedicar de vez à sua doutrina; estava convencido de seu alcance.

No ano 306 a.C., transferiu-se para Atenas onde comprou o “Jardim”, local onde seus seguidores se reuniram em comunidade. Note-se que não se opunham ao estoicismo, criado somente 5 anos mais tarde (301 a.C.).

No Jardim se formavam novos pregadores e missionários dessa filosofia, diferente da Academia ou do Liceu onde se estudava a teoria; os epicureus visavam a vida prática e cotidiana. Dali, Epicuro compunha cartas que seguiam para todos os locais onde houvesse uma comunidade epicuréia.

Além de uma comunidade religiosa, no Jardim havia uma horta, conforme atestado por alguns estudiosos, na qual trabalhavam discípulos e escravos.

Cada comunidade tinha seu chefe; e em cada uma delas eram aceitos todos os tipos de pessoas: homens, mulheres, moços, velhos, crianças e até escravos. O fato de permitir mulheres chama a atenção pela modernidade ou pleo menos sensibilade humana em alto grau.

A Escola epicuréia era muito diferenciada e tomou uma dimensão nunca vista na Grécia. Festas mensais, ritos, estudo da natureza ( fisiologia), traduziam um verdadeiro “evangelho” racional, em substituição à antiga religião. O Jardim tinha algo de comunidade religiosa, tornando-se um santuário à margem da caótica política cidadã; sem promessas nem milagres, sem sombras fantasmagóricas.

Havia inclusive casais vivendo em sua comunidade, além de prostitutas; esse fato, gerou histórias escandalosas na época. O fundador no entanto, pregava o amor e não o sexo por si, já que este não traz proveito a ninguém. Por isso, julgar que o Jardim era um local de imoralidade, seria distorcer os fatos.

Os “irmãos” ou “amigos” residiam nas comunidades, mas muitos se juntavam a elas apenas para aprender a doutrina. O termo usado por Epicuro, katechéou, pode ter influenciado o cristianismo, pois significa “eu derramo para dentro de” ou “verto para dentro de”, num sentido de instrução a novos prosélitos.

Epicuro exigia um juramento de fidelidade dos adeptos, no sentido de seguirem a doutrina. Era uma adesão irrestrita ao mestre e seus “amigos”. Buda também instituíra que seus discípulos se chamassem por “amigos”, fato que chama a atenção pela similaridade.

A vida nas comunidades era simples, de ajuda mútua. A colaboração exaltava a amizade e solidariedade material, semelhante ao cristianismo em seu início. Os hábitos simples vinham desde a alimentação e o próprio Epicuro não apresentava ambições.

Epicuro tinha preocupação em manter contato com seus discípulos espalhados pelo mundo e por isso enviava-lhes cartas constantes, às vezes inclusive os visitando, o que denota sua difusão e união em torno da doutrina.

Os epicureus viviam em silêncio e profunda harmonia, novidade ímpar na cultura grega, como a pregação de liberdade interior e a paz da alma. A descoberta da autonomia do homem e a certeza da liberdade são um traço marcante do gênio grego. Segundo Epicuro, cada ser humano tem em si a possibilidade de ser feliz.

No vigésimo dia de cada mês era celebrado um banquete ritual, de cunho religioso, uma vez que nenhuma Escola filosófica podia ser fundada sem que celebrasse ritos culturais e sacrifícios aos deuses superiores. Além disso, homenageavam os falecidos e amigos do Jardim.

Essas reuniões visavam partilhar a felicidade e imitar a eudemonia das divindades. Até hoje o costume de reunir-se em um repasto significa irmanar-se, ser família, caompartir bondade.

Epicuro sabia que a vida é feita de sofrimento e por isso procurava evitá-lo, através do logismós, “cálculo”, por racionalidade. A busca constante era pela ataraxia.

De saúde abalada, a doença incomodou Epicuro por quase toda sua vida. Ao fim, ditou cartas a Idomeneu, Hermarco e a outros amigos íntimos. Momentos antes de morrer, bebeu um pouco de vinho, exortou os amigos a lembrarem de seus preceitos e doutrina, e assim conversando, morreu.

Os discípulos o trataram como um deus e espalharam sua fama, dignificando-o. Até mesmo Cícero, que não nutria simpatia por Epicuro, admite que era venerado como um deus. E tanto este quanto Plínio, fazem referência ao fato de os epicureus ostentarem em suas casas, figuras do mestre, e de as portarem consigo.

Após sua morte os discípulos continuaram a viver nas comunidades; ressaltam-se as figuras de Hermarco, que herdou do mestreo o Jardim, para continuar sua obra, Metrodoro de Lâmpsaco, Filodemo de Nápoles, Diógenes de Eloanda (século II a.C.) e Lucréci

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