03 agosto, 2010

Os Outros (não o filme...)

Um olhar nos separa de um outro ser, um outro objeto. Um sentir, tocar e perceber nos dá a conhecer a existência de algo além de nosso corpo. Ouvimos e cheiramos coisas que não vem de nós, vem de fora. Tentamos com a mente, organizar essas sensações, raciocinar sobre seus significados, buscamos compreender o que estamos vendo/sentindo/cheirando/tocando.
Os outros...são os objetos, pessoas, animais, plantas, luzes, coisas; aquilo que não faz parte de nossa existência corpórea e que se apresenta à nossa compreensão, nossa interpretação.
Um problema surge: o que são os outros? O que sou eu? O que é IDENTIDADE PESSOAL?
Se é algo objetivo, não deveria haver chance de interpretação nos dados que recebo do objeto de percepção.
Se é algo subjetivo, passível de análise e interpretação pessoal, como se pode definir claramente o que algo é, sem recorrer a critérios pessoais?
A verdade parece estar no meio: temos como perceber coisas pelo seu aspecto geral (animal, planta, objeto, cores, ...) e o definimos, estabelecemos sua diferenciação de outro semelhante, usando critérios pessoais.
Isso é uma construção, um processo de entendimento que é feito entre o que é percebido e o sujeito que percebe. É um fluxo constante de informação e compreensão que passa de um ao outro para que se forme uma ideia do que algo é. E mesmo isso pode mudar ao longo do tempo, com a proximidade, com a familiaridade.
A Identidade Pessoal é algo muito mais subjetivo para o próprio ser do que para quem o percebe, sendo muito mais fácil enganar-se a respeito de qualidades, defeitos e mesmo aparência justamente por não se ver "de fora"; nesse sentido, perceber o outro é vê-lo como aparentemente ele é, sem as falsas ideias que ele mesmo faz de si.
A proximidade nos diz mais sobre os aspectos emocionais e psicológicos, também de modo diferente do que o outro se imagina; do arquétipo que se forma em nossa mente, criamos a Identidade Pessoal do outro, daquilo que se analisa. E ele faz o mesmo conosco.
Não se pode facilmente aceitar que sejamos assim, considerando que muitas pessoas conseguem um invejável grau de percepção de si, sem máscaras ou truques sociais. Mas mesmo esses não tem a visão global, a percepção extra-corpórea para se "ver" de modo imparcial.
Perceber um objeto é muito mais fácil, direto e (por que não? ) verdadeiro do que algo vivo, que pensa, sente, se emociona e quer também te perceber.
Colocar-se no lugar do outro é um bom exercício de auto-conhecimento, de empatia. Vale só pensar o que alguém faria se estivesse na mesma situação ou mesmo se aprofundar e tentar sentir o que alguém estaria sentindo em determinado momento crucial.
Experimente olhar nos olhos de alguém, para vê-lo em sua plenitude, sentir o indizível, perceber suas reações, se ver refletido na retina. Perceba o quanto ela é igual e diferente de você e poderá entender a dificuldade que é definir Identidade em filosofia.

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